domingo, 24 de fevereiro de 2008

O grito




Meu grito emerge
Do abismo de minha solidão,
Agiganta-se,
Procura encontrar eco na aridez dos desertos,
Nas montanhas longínquas,
Na imensidão dos mares,
No tumulto dos centros urbanos . . .

Oh, transeunte do acaso,
Na esquina de uma rua qualquer,
Ouve meu grito de socorro!
Arranca-me dessa solidão,
Dessa masmorra em que me enclausurei!
Ressuscita-me para a frivolidade do cotidiano!

Hoje, quero perder-me pelas vielas de ser,
Quero filosofar diante de um balcão de botequim,
Quero rir de tudo, de todos, da vida, de mim mesmo;
Quero chorar todos os rios que deságuam em mim;
Quero embriagar-me, inebriar-me, entorpecer-me
Com todas as delícias clandestinas . . .
E depois . . . Depois . . . Ah! . . .
Pouco me importa o que venha depois! . . .

Oliveira

4 comentários:

Lucas Pereira disse...

Carlos Drummond de Andrade em seu "Convite Triste", convidava a beber, maldizer entre outras coisas...
"O grito" é realmente um convite triste, um deserto de sentimentos não-correspondidos:
"...Procura encontar eco na Aridez dos desertos,..." os "c" quebram crepitam como madeira no fogo; dá pra sentir o calor. Os "d" "s" e "z" são secos, fugidios... Sons perfeitos para descever esta imagem.
E depois? é o que me pergundo... e depois? Qual será o próximo poema?
Ótimo!

Carolina de Castro disse...

Escrevendo com a carne.
Dilacerando os limites
Extrapolando as convicções.
Cada vez mais intenso seus poemas.
O grito é a voz das almas perturbadas.
O sono despertado derepente.
O alívio!
O alívio tão almejado!!
Beijo grande

Priscila Lopes disse...

Belo!

Esse Munch também é fenomenal, né?

Abraços, volte sempre ao Cinco Espinhos!

Sandra Cordeiro disse...

EU já havia me encantado pelo teu poema "O Grito". Mais ainda agora, vendo q fizeste uso da obra de Edvard Munch, uma obra q marcou o Expressionismo, a qual relata a ângustia e o desespero existencial.Parabéns novamente pelo texto.