segunda-feira, 17 de março de 2008

Viagem ao exílio



Embarquei num navio de angústias sonâmbulas
Por oceanos outonais cujo destino final
É naufragar num mar de folhas-mortas . . .
Pouco me importa! . . .
Bebo vinhos finos numa taça de amargura,
Entorpeço-me com ópio por distração . . .
Mergulho numa Veneza-de-tédios,
Numa masmorra de silêncios depostos . . .
Minha memória esqueceu o caminho de regresso,
Minha vontade jaz paraplégica no tombadilho . . .
Descubro que a primavera de outrora extraviou-se,
Irremediavelmente,
Que o amor desatinado e tenaz não foi mais que uma verdade efêmera,
Que o passado é uma mentira . . .
Meu Deus! . . . Meu Deus! . . .
A vida acumulou entorpecentes montanhas de lixo nostálgico em meu coração -
Meu pobre coração morre lenta e inexoravelmente como um rio poluído . . .
A solidão purificou as lembranças mais amargas,
O tédio instalou-se em minha vida com seu manto bordado de indiferença . . .
Pouco me importa que o mundo desabe,
Que o mar levante-se em fúria cega
E que as vagas engulam este navio . . .
É-me, totalmente, indiferente! . . .
Deixo-me ficar no convés, vestido de alheamento,
Cadáver de quem fui . . .

Oliveira