
Minhas ânsias são barcos de velas pandas num mar revolto.
Meus desejos são navios encalhados próximo ao cais:
Tristes como escombros de um império que ruiu.
Meus propósitos desmoronaram
Como se fossem pontes sustentadas por pilastras de tédio.
Meus desejos perderam a bússola e dispersaram-se pelos becos escuros e tortuosos.
Minhas ilusões diluíram-se nas lágrimas derramadas inutilmente nas noites de insônia. Resta-me uma paisagem de concreto com longas avenidas de gás néon,
Orladas de bares e de gente vazia.
A máscara que vesti obscureceu quem sou.
Sou apenas mais um rosto na multidão.
Meu nome é ninguém.
O amor é o desespero do náufrago diante do mar-solidão.
O amor é um engano disfarçado de certezas sublimes:
Esconde o andrajoso espetáculo do desencanto
E o caudaloso rio de lágrimas amargas choradas na solidão das horas mortas.
O amor é uma tapeação, um brinquedo esquisito para distração momentânea:
Não vale todo o sacrifício, todos os tormentos, todos os sobressaltos.
O amor é uma droga corrosiva que vai matando lentamente.
A saudade de minha infância são pipas coloridas
Que jazem inúteis diante da impossibilidade de alçar vôo.
Minha infância perdeu-se na poeira do tempo e com ela foi também minha alegria.
Hoje, minhas alegrias são fugazes
Como aves de arribação na imensidão de meu céu interior.
A lembrança de quem fui é um tela impressionista
Que retrata um outrora primavera perdida.
Meus dias decorrem hibernais: cinzas de propósitos caducos,
Gato enroscado no borralho sonhando com um pássaro
Entre suas garras ferinas, fotografias dispersa pelo chão,
cartas amareladas pelo tempo – pedaços de sonhos
Que a vida roubou-me cruelmente.
Ah! . . . Quanta monotonia: flocos de neve tingindo de branco
As ruas desertas, sinfonia de violino-piano acalentando
O desassossego da inutilidade das horas absurdas diante de portões de ferro,
De muros de pedra cobertos de hera . . .
Impossibilidade de ser sozinho. . .
Oliveira