sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Hibernal 01 Para Marcos Vinícius


Neva, neva, neva . . .

Uma cortina de bruma desaba, estupidamente,
No palco de minha vida,
Como se fosse um lânguido entardecer,
Um dolente crepúsculo com repiques de sinos ao longe . . .
Uma angústia despropositada encharca-me
Com seu odor de flores murchas,
Com seus soluços contidos . . .


Meu coração chora a pompa de outrora felizes . . .
Outrora, havia rosas, rosas de todas as cores
No jardim de minha infância perdida:
As rosas feneceram,
O jardim sucumbiu,
Desavim-me pelos descaminhos da vida . . .

Meu coração veste-se de negro,
Meu coração perdeu o encanto pela vida,
Meu coração pulsa sem alegria,
Meu coração é um velho casarão desolado . . .

Os dias decorrem hibernais . . .
Neva abundantemente! . . .
As ruas estão desertas, ébrias de brancura . . .
Na lareira, crepitam as achas de sândalo
Que inundam a sala com seu aroma primaveril.
Que desconsolo! . . .
Que frio na alma entorpecida de solidão! . . .


Neva incessantemente! . . .
Lembro-me de que em minha infância,
Quando iniciava o inverno,
Apoderava-se de mim um sentimento obscuro,
Um misto de medo e pressentimento negro
Ao ver as árvores despidas de sua folhagem.
Faz tanto tempo, mas ainda hoje,
Experimento a mesma estranheza,
Quando me quedo diante da janela
E miro esta brancura mortiça,
Deusa desta desolação infinita! . . .

Continua a nevar . . .
Cerro as cortinas, rumino lembranças . . .
O manto negro da noite cobre-se de neve;
A noite parece mais assombrosa . . .
Minhas sensações são uma avalancha
Numa queda vertiginosa para o nada . . .

Oliveira

2 comentários:

Simone Lima disse...

Oii aqui estou eu fazendo uma nova visistinha.... Passando para deixar um Beijoo.. Até...

Silas disse...

Nossa suas poesias entoam um conto romancista de profundo desespero emocional, muito bom! Apesar de não ser meu estilo preferido.
Eu nem sei se digo pra vc continuar assim, pois tenho medo de como seja seu emocional. rsrs
Mas, os seus textos são muito bons.
Parabéns, virei mais vezes.